O Uso do Composto Polimérico

É consenso que cada vez mais buscam-se tecnologias e mecanismos para promover a industrialização da construção civil, de maneira a aproveitar os ganhos de produtividade, sustentabilidade e economia de materiais que esse processo de revolução tecnológica pode gerar nos canteiros de obras. Uma das etapas construtivas que ainda é desenvolvida com os mesmos conceitos de séculos atrás é a construção de sistemas de alvenaria, em especial a alvenaria de vedação.

Nos últimos anos, no Brasil vem ganhando espaço no mercado o composto polimérico para assentamento de blocos e tijolos na construção de alvenaria de vedação, conhecido também como argamassa polimérica pronta para uso.

Segundo Branco (2015), em função da industrialização do processo de assentamento, os custos com mão de obra são reduzidos em até 43% e apesar dos custos com materiais terem um incremento de até 23%. Ainda, o custo geral para a construção dos sistemas de alvenaria pode ser reduzido em aproximadamente 15%. Resultados semelhantes também verificou Reis (2018). Inclusive, desde 2017 é uma tecnologia normalizada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), por meio da NBR 16590 (ABNT, 2017). Segundo esta normativa, o composto polimérico é definido como sendo a mistura homogênea e industrializada de carga mineral, blenda de resinas poliméricas, aditivos químicos diversos e água.

Fonte: imagens disponibilizadas pela Massa DunDun (2023).

Quais são as vantagens do uso do composto polimérico na construção de alvenaria de vedação?

  • Industrialização: uma vez que o produto chega pronto à obra, sem nem a necessidade de mistura com água, elimina-se uma série de etapas do processo produtivo. Além disso, é um material que entrega um consumo até 20 vezes menor do que a argamassa convencional, em kg/m² construído. É desta forma que, inclusive, o processo logístico do canteiro de obra pode ser beneficiado, visto que o transporte de cargas na obra é expressivamente inferior. Outro aspecto relevante é a produtividade da equipe de mão de obra. Levantamentos indicam que um pedreiro pode dobrar a metragem quadrada construída com o composto polimérico, porque o processo é mais industrializado e menos “artesanal”, se assim podemos dizer.
  • Redução de Custos: muito em função dos ganhos de produtividade, a redução de custos por m² construído varia de região pra região, a depender muito da disponibilidade da tecnologia e custos de frete. Mas, levantamentos realizados mostram que a redução de custos de material e mão de obra somados, em média, é de 25% a 40%.
  • Sustentabilidade: como o composto polimérico não possui cimento em sua composição, e, como sabemos, o cimento é um dos materiais que mais emite gases do efeito estufa na sua produção. Logo, a utilização do composto polimérico na construção de alvenaria de vedação promove também a sustentabilidade. A Dundun, um dos grandes fabricantes de composto polimérico, contratou um estudo comparativo de Análise de Ciclo de Vida (ACV) entre o composto polimérico a argamassa convencional, considerando a redução de consumo de material por m². O que se observou foi que:
    • O consumo de água na fabricação do material é 21 vezes menor quando comparado com argamassa convencional;
    • O potencial de aquecimento global é 10 vezes menor no composto polimérico quando comparado com a argamassa convencional;
    • A depleção da camada de ozônio é 15 vezes menor.

A parede não é mais rígida quando construída com junta fina, como é o caso nas paredes com composto polimérico?

Com o objetivo de entender a diferença de comportamento de sistemas de alvenaria construídos com composto polimérico frente às alvenarias construídas com argamassa convencional, Andrade (2019) realizou ensaios em escala real em que cargas distribuídas de compressão sobre paredes construídas com composto polimérico e com argamassa convencional foram aplicadas, e realizaram-se medições de deformação longitudinal dos sistemas, a fim de determinar os seus respectivos módulos de elasticidade.

Construção da amostra e aparato de ensaio

Fonte: Andrade (2019).

Os resultados indicam o contrário do que parece ser o mais intuitivo, os sistemas de alvenaria com junta fina, em que os blocos foram assentados com composto polimérico, não somente são tão deformáveis quanto os sistemas com argamassa convencional, mas inclusive apresentam um módulo de elasticidade aproximadamente 4 vezes menor (ou seja, mais flexível), indicando que o composto polimérico não aumenta a rigidez da parede. Portanto, segundo os resultados obtidos por Andrade (2019), pode-se dizer que possíveis fissuras que venham a se manifestar nos revestimentos de argamassa de sistemas de vedação com composto polimérico não estariam relacionadas com um aumento de rigidez do sistema. Como dito, o que se verificou é o contrário, a alvenaria se configura por ser mais deformável do que nos casos com argamassa convencional.

Quais as desvantagens do uso do composto polimérico na construção das alvenarias?

Como qualquer tecnologia, a utilização de composto polimérico para construção de alvenaria de vedação possui suas limitações. Uma vez que as juntas entre fiadas são juntas finas (thin layer), como classificam as normas internacionais, a irregularidade dimensional das unidades modulares, os blocos ou tijolos, passa a ser um problema mais significativo. Isso porque o composto polimérico não entrega uma junta suficientemente espessa para que o profissional consiga ajustar essas irregularidades no momento do assentamento. Ou seja, a maior desvantagem em utilizar o composto polimérico é sua alta dependência da boa qualidade dos blocos a serem empregados.

O composto polimérico só pode ser utilizado para construção de alvenaria de vedação?

A ABNT NBR 16868-2 de 2020, a norma de projeto e execução de sistemas de alvenaria estrutural, no item 9.3.2, especifica que as juntas de assentamento devem ter espessura de 10 ± 3 mm. Essa prescrição normativa impede que seja empregado o composto polimérico para construção de alvenaria estrutural, haja vista que a espessura das juntas pra essa tecnologia é de no máximo 6 mm, conforme especifica a ABNT NBR 16590, de 2017.

Considerações finais…

Em resumo, a utilização de composto polimérico configura uma nova forma de construir paredes, em que o produto é industrializado e chega pronto para uso. Aumenta produtividade, reduz custos e é mais sustentável. É claro que como qualquer tecnologia, deve ser avaliado e estudado segundo as particularidades de cada projeto, mas o histórico recente e os estudos que estão sendo desenvolvidos mostram que se trata de um produto inovador e que, se bem utilizado, pode gerar inúmeros benefícios diretos e indiretos para a construção civil.

*Este artigo foi redigido pelo Eng. Civil Júlio Daudt sob curadoria do Eng. Civil Bernardo Tutikian.

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Bernardo Tutikian

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