A NBR 9452 é a norma técnica que estabelece as diretrizes para realizar inspeções e os tipos de inspeções em pontes, viadutos e passarelas, sistemas integrantes da infraestrutura rodoviária e ferroviária do Brasil. Em maio de 2023 a revisão da NBR 9452 estava em consulta nacional e nas próximas semanas deve ser publicada sua nova versão. A maior atualização se refere a inserção de procedimentos de inspeção para estruturas em aço e mistas de aço e concreto, uma vez que a versão de 2019 prescrevia métodos somente para estruturas em concreto armado.
A norma técnica brasileira NBR 9452 é essencial para garantir a segurança de pontes e viadutos no Brasil. Por meio da implementação de diretrizes que serão abordadas nesse artigo, é possível identificar e avaliar possíveis danos ou defeitos na estrutura e estabelecer medidas preventivas ou corretivas antes que se tornem problemas graves, inclusive afetando as condições de segurança estrutural do sistema.
Fundamentalmente, a norma prescreve a obrigatoriedade de inspeções periódicas nessas obras de arte especiais (OAE’s). Classifica as inspeções em 4 tipos, que possuem respectivamente sua periodicidade:
A inspeção cadastral
É a primeira inspeção realizada na ponte ou viaduto, que deve ocorrer após a conclusão ou integração da estrutura na rede viária. Essa inspeção é necessária para coletar informações básicas sobre a estrutura, como sua localização e características, e estabelecer uma base para inspeções futuras.
A inspeção rotineira
É uma inspeção visual periódica que deve ser realizada em intervalos de até um ano, após a inspeção cadastral. O objetivo dessa inspeção é detectar e avaliar possíveis danos ou defeitos na estrutura, garantindo que a ponte, viaduto ou passarela continue a ser segura para o tráfego de veículos e pedestres.
A inspeção especial
Tem uma periodicidade de cinco anos e é realizada para complementar a inspeção rotineira. É mais detalhada e envolve uma avaliação mais aprofundada da estrutura, identificando possíveis problemas que podem ser corrigidos antes que se tornem graves.
A inspeção extraordinária
É realizada quando ocorrem eventos imprevisíveis, como choques de embarcações ou enchentes, que possam ter afetado a integridade estrutural da ponte ou viaduto. Essa inspeção é realizada para avaliar os danos e determinar quais ações devem ser tomadas para garantir a segurança da estrutura.
As inspeções devem ser realizadas por uma equipe técnica de engenheiros civis ou áreas relacionadas, sob a supervisão do administrador do OAE (ponte ou viaduto) por meio do gerente de engenharia responsável, em conformidade com as diretrizes adotadas para a inspeção.
Outro ponto relevante da norma é a importância do registro das informações coletadas durante as inspeções. A NBR 9452 define os dados mínimos que devem ser registrados em um relatório de inspeção, como informações gerais sobre a estrutura, dados sobre a geometria e as dimensões da estrutura, além de informações sobre a identificação e a classificação dos defeitos encontrados. O relatório deve ser emitido por um responsável técnico habilitado e ser mantido em arquivo por um período mínimo de 20 anos.
Além disso, é importante ressaltar que a NBR 9452 estabelece ainda os critérios de classificação de gravidade das manifestações patológicas identificadas nas inspeções. Essa classificação é feita com base na influência do defeito em parâmetros estruturais, funcionais e de durabilidade. A classificação é feita em 6 níveis, de 0 a 5, em que a nota 0 representa uma condição emergencial de intervenção e a nota 5 uma condição excelente, tanto em termos estruturais, funcionais e de durabilidade.
Tabela 1: é a Tabela 1 da NBR 9452 (retirada do documento de consulta pública, em 2023) que estabelece a classificação da condição da OAE segundo os parâmetros estrutural, funcional e de durabilidade.
| Classificação (nota) | Condição | Caracterização estrutural | Caracterização funcional | Caracterização de durabilidade |
| 5 | Excelente | A estrutura se encontra em condições satisfatórias, apresentando defeitos irrelevantes e isolados. | A OAE apresenta segurança e conforto aos usuários. | A OAE se encontra em perfeitas condições. |
| 4 | Boa | A estrutura apresenta danos de baixa gravidade, localizados e em pequenas áreas, sem comprometer a segurança estrutural. | A OAE apresenta pequenos danos que não chegam a causar desconforto ou insegurança ao usuário. | A OAE apresenta pequenas e poucas anomalias, que não comprometem sua vida útil, em região de baixa agressividade ambiental. |
| 3 | Regular | Há danos que podem vir a gerar alguma deficiência estrutural, mas não há sinais de comprometimento da estabilidade da obra. Recomenda-se acompanhamento dos problemas. | A OAE apresenta desconforto ao usuário, com defeitos que requerem ações. | A OAE apresenta anomalias de moderada gravidade, que comprometem sua vida útil, em região de moderada a alta agressividade ambiental. A OAE apresenta de moderadas a muitas anomalias, que comprometem sua vida útil, em região de baixa agressividade ambiental. |
| 2 | Ruim | Há danos comprometendo a segurança estrutural da OAE sem aparente risco iminente de colapso. Sua evolução pode levar ao colapso estrutural. A OAE necessita de intervenções significativas. | A OAE possui funcionalidade visivelmente comprometida, com riscos de segurança ao usuário. | A OAE apresenta de moderadas a muitas anomalias, que comprometem sua vida útil, em região de alta agressividade ambiental. |
| 1 | Crítica | Há danos gerando grave insuficiência estrutural na OAE. Há elementos estruturais em estado crítico, com risco tangível de colapso estrutural localizado. A OAE necessita de intervenção imediata, podendo ser necessária restrição de carga, interdição parcial, escoramento provisório, instrumentação, associadas ou não. | A OAE apresenta condições funcionais limitadas de utilização em regiões localizadas. | A OAE se encontra em elevado grau de deterioração em regiões localizadas, apontando problema já de risco estrutural e/ou funcional, requerendo intervenção imediata, restrição de carga e interdição parcial ao tráfego. |
| 0 | Emergencial | Há danos que geram grave insuficiência estrutural na OAE. Há elementos estruturais principais colapsados. A OAE necessita de intervenção emergencial com a convocação da projetista da OAE e/ ou de consultoria especializada em estruturas de OAE para reavaliação da classificação inicialmente atribuída. É necessária a interdição total. | A OAE não apresenta condições funcionais de utilização. A OAE deve ser interditada. | A OAE se encontra em elevado grau de deterioração, gerando grave insuficiência estrutural e/ou funcional, requerendo intervenção emergencial e interdição total. |
Ainda, a NBR 9452 ressalta a importância da manutenção preventiva das estruturas e da necessidade de que as inspeções sejam realizadas de forma periódica e sistemática. Essa medida visa garantir a segurança das estruturas e prevenir possíveis falhas e acidentes.
Em seu ANEXO A, a norma traz em caráter informativo um roteiro básico e ficha para inspeção cadastral. No seu ANEXO B, traz um roteiro básico e ficha para inspeção rotineira. Já no ANEXO C a norma indica um fluxograma de gerenciamento de uma OAE e no ANEXO D apresenta um roteiro básico e ficha de inspeção especial.
O ANEXO E também possui caráter informativo e apresenta uma referência de classificação da OAE, considerando a relevância da anomalia e o elemento estrutural onde esta foi detectada. Em seu ANEXO F a NBR 9452 indica um roteiro para inspeção subaquática e no ANEXO G uma convenção de nomenclatura para vistoria de uma OAE. No ANEXO H a norma traz orientações para a identificação de danos e manifestações patológicas em pontes, viadutos e passarelas em aço, a especificar a corrosão, os danos em revestimentos de proteção superficial, os danos em ligações e conexões, as anomalias derivadas da fadiga de elementos e de esforços excessivos. Por fim, o ANEXO I apresenta considerações sobre a tecnologia BIM aplicada às inspeções de OAE.
Em resumo, a NBR 9452 é uma norma técnica que estabelece as diretrizes e critérios para a realização de inspeções em pontes e viadutos no Brasil, com o objetivo de garantir a segurança dessas estruturas e prevenir possíveis acidentes. A norma define os tipos de inspeções necessários, os critérios de classificação de gravidade dos defeitos identificados, as informações mínimas que devem ser registradas em um relatório de inspeção, os profissionais habilitados para realização das inspeções, além da importância da manutenção preventiva das estruturas.
Este artigo foi redigido pelo Eng. Civil Júlio Daudt sob curadoria do Eng. Civil Bernardo Tutikian.
